Blog do Prof.João Baiano

EDUCAÇÃO PARA VIDA!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As marcas da juventude do complexo do alemão








Você deve estar muito curioso com esse título, não é mesmo? Eu vou confessar pra vocês que eu também estou, pois estou escrevendo agora e nem estou pensando como será o final. Vou deixar fluir e falar o que manda o meu coração. Sei que vocês, leitores, a maioria jovens, ouviram e viram, nas últimas semanas, muitas coisas em diversos meios de comunicação. Deve ter se divertido muito também com muitas mensagens nos twitters, fazendo piadinhas da situação etc. Foram feitos muitos comentários sobre o que foi certo e o que foi errado em relação à decisão do Governo do Rio ou da Força de Segurança. Debates aconteceram, especialistas falaram, ONGs se manifestaram. Foi assunto para todo o mundo, mostrando um País que tem uma força poderosa e demonstrou que quando o Poder Público quer ele consegue. Tudo isso vocês já sabem, não é mesmo?

A minha reflexão vem de acordo com o trabalho que desenvolvo nesses 3 anos em Coroatá, ou seja, a formação dos jovens. Dias atrás estava vendo uma reportagem em uma determinada emissora de TV, quando escutei o seguinte comentário: O poder oficial (governo) abandonou a população das favelas, e o poder paralelo (narcotráfico) adotou e tomou conta e fez o que vinha fazendo até o momento... .

E o que tem a juventude com isso? Todo o contexto histórico do narcotráfico e da histórica invasão pela polícia, faz-nos perceber a importância que tem o fator INVESTIMENTO nas comunidades carentes, que chamamos de favela, não os abandonando e acompanhando de perto todas as necessidades emergentes, que deveriam ser prioridades ao Governo.

Da mesma forma ocorre em relação à formação de nossos jovens. Se a Família, Escola, Igreja e o próprio Governo não encarar a educação dos jovens de forma séria, vamos ter no futuro muitas "gangs" formadas. Quem sabe muitos dos traficantes que foram presos e outro tanto que estão sendo procurados, tivessem tido uma oportunidade de estudar, de trabalhar, de ter uma família consistente, com certeza teríamos uma realidade diferente nos dias de hoje. Isso me faz lembrar o depoimento de uma jovem que disse: nós estamos aqui porque somos pobres; não estamos aqui por opção própria. Estamos aqui porque fomos abandonados. Dura realidade esta!

Quando abandonamos a educação séria dos nossos jovens, quando os pais querem comprar seus filhos com presentes, quando professores querem se parecer mais um com "cara legal, divertido e adorado pelos alunos", porém não levam a sério a educação do aluno, mostrando a ele o caminho correto, um caminho baseado em valores (às vezes nem mesmo o educador vive uma vida baseada em valores), com certeza estaremos colaborando para a criação de novas "gangs". Se as Igrejas abandonarem os jovens, achando que é uma missão impossível a evangelização dessa geração de arrogantes e "perdidos", com certeza estaremos colaborando cada vez mais para a criação de novos ocupantes dos "complexos" das diversas cidades de nosso País.

A juventude encontrada no Morro do Alemão é composta por um jovem desiludido, que não acredita mais em nenhuma Instituição, nem mesmo na família, desintegrada há muito tempo; jovens que nascem em famílias desestruturadas; jovens que têm que se "virar" para sobreviver, num morro onde não existe condição adequada de vida; geralmente sem a presença paterna, sozinhos, com facilidade são aliciados por traficantes que mostram um mundo diferente, com possibilidades de ter um "dinheirinho" no bolso e fazendo trabalhos fáceis, como por exemplo, ser um "fogueteiro" ou levar um litro de gasolina para queimar um carro, ou simplesmente fazer uma "desova" ou atear fogo em um pneu para acabar com as provas de um crime etc.

Com essa facilidade, sem vislumbrar um futuro melhor, o jovem é seduzido a isso. Aos poucos vai galgando os possíveis "postos" e logo está à frente de uma facção ou de uma favela, sendo chefe, mandando, matando e se defendendo como pode como estamos vendo nas inúmeras reportagens dessa última semana.

Esse é apenas um aspecto. O outro problema são os "outros" jovens que não vivem inseridos no "complexo", mas que usufruem das "mercadorias" que vem do morro. Não falo dos jovens pobres, das classes C, D e E. Falo dos jovens de classe A e B. Esses jovens que mantém toda a infraestrutura do morro.

O princípio é o mesmo. Se não existir uma educação firme dos pais em relação aos filhos, certamente veremos muitas mães e pais chorando a morte de seus filhos. Não apenas a morte biológica, mas a morte do caráter, dos valores e com isso se verá a própria derrocada da Instituição Família.

O que percebo nos dias de hoje é que muitas vezes lares estão se transformando em verdadeiros "complexos do Alemão". A guerra começa na família; a formação de gangs começa dentro do lar; E é da família que sai esse jovem que nas escolas não se adaptam, que são problemas para amigos, professores e diretores; são jovens que saem por ali destruindo tudo, batendo em todo mundo, matando, ateando fogo em índios; violentando crianças; torturando animais etc. E ainda por cima, são protegidos pelos pais, afinal de contas "eles são apenas inofensivos adolescentes".

Queremos acabar com os "complexos" dos morros? Queremos acabar com o narcotráfico? Queremos acabar com o "bulling"? Queremos acabar com a violência? Só existe uma tarefa a ser feita: educar bem as nossas crianças, para que se tornem um jovem saudável.

Por isso, da mesma forma de que o Estado Oficial abandonou as favelas e o estado paralelo as adotou, quando abandonamos a educação das crianças e jovens, seja na Família, na Escola ou na Igreja, com certeza eles serão adotados pelo "poder paralelo". E quando chegar a esse ponto, a única coisa que faremos será sentar em nossa confortável sala de TV, sintonizar um canal e ver a Polícia invadir mais um "Complexo" do nosso Brasil.



Um abraço fraterno

                                               PROFESSOR JOÃO BAIANO








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